Boas Vindas...

Este poderá ser um espaço de partilha ou de simples visita. Começou por uma brincadeira, talvez resulte numa coisa mais séria. Vamos ver qual o caminho que toma. Vou colocando em debate ideias, noticias, reflexões, sobre assuntos que a todos preocupa, sendo pais, filhos ou familiares, a todos aqueles que se prestam à relação. Assim, convido-vos a irem comentando as noticias, os desabafos e as descobertas...



Até breve, Ana Paulico

31 de março de 2020

Como manter a Ansiedade em Perspectiva

Em muitos dos pedidos de ajuda que acompanho on-line, as pessoas referem estar esgotadas pela actual crise, pelas noticias da epidemia, pela incerteza no futuro, pelo crescente medo do contágio. Agora, mais do que nunca, precisamos permanecer calmos e atentos a tantos perigos, reais e percebidos. Mas como poderemos fazer isso? 

Aqui estão duas etapas que eu recomendo.

1. Distinguir ansiedade e medo

O primeiro passo para lidar com isso é aprender a distinguir a ansiedade do medo realista.
O medo é imediato: uma ameaça bem na sua frente que requer uma resposta rápida. Podemos pensar num medo concreto, quando vou a conduzir numa auto-estrada e está um nevoeiro cerrado, ou então uma chuva intensa, que só me permite ver alguns metros mais à frente eu sinto medo. Sem precisar pensar, todos os seus sentidos se concentram para que eu possa responder de uma maneira que garanta minha sobrevivência e a das outras pessoas no carro. Esta é uma resposta útil a uma situação perigosa.
Por outro lado, quando ligamos a alguém e essa pessoa não nos atende. "Pode haver milhares de razões pelas quais ele não atende o telefone", poderemos então pensar que ... “Pode estar no chuveiro. Adormeceu. Esqueceu o telefone em casa. Mas a nossa mente por vezes é traiçoeira e cria o pior cenário possível. Se eu telefonar aquela pessoa e ela não me atende, pode ser que ela esteja morta ou ferida?! 
E assim, desta forma, com este pensamento em mente, os meus olhos se arregalam, o coração dispara, e o meu corpo entra num estado de "hiper-alerta" - mesmo que tudo só aconteça na minha cabeça... 

Pior ainda, esta ansiedade alimenta-se a si mesma. Podemos descrevê-la como um macaco agitado dentro de uma loja de loiça. Vai fazer estragos. E os estragos podem intensificar-se, construindo uma história fatalista cada vez mais assustadora. E pode ser muito duro! 
Passamos a estar ansiosos só de pensar que vamos sentir ansiedade. E entramos num ciclo vicioso, medo de sentir ansiedade e, isso aumenta a nossa ansiedade. 

2. Aplicando um antídoto 


Mas quando esses sentidos são despertados por ameaças imaginárias, somos consumidos por essa ansiedade. O fato de a ansiedade dominar o corpo, da mesma maneira que o medo, confere à ansiedade mais credibilidade do que ela merece. Quando teu corpo reage dessa maneira, a tua mente acredita que a ansiedade está a alertar para uma ameaça genuína, real.
E quando o cérebro está a produzir um filme em que imagina um resultado horrível após o outro, ele (cérebro) não tem espaço suficiente para perceber claramente o mundo à nossa volta e, fazer escolhas cuidadosas e apropriadas para nos proteger a nós e aos outros.
Então, primeiro passo: comece por respirar pausadamente, por um minuto ou dois, respirar para acalmar a mente e o batimento cardíaco. Só depois é possível determinar se essa ameaça que sente é real ou é uma conjectura dadas as circunstâncias. Pergunte-se: "Isso é uma ameaça real? Ou minha mente está imaginando/fantasiando ou talvez exagerando o que realmente está lá?" Não tente se acalmar à força - isso é demais. Apenas tente determinar se esse é um medo real ou uma conjectura ansiosa.
Em seguida, depois de saber que o que você sente é ansiedade, considere utilizar um antídoto. 

Um dos meus favoritos é cultivar um pouco de bondade para Ti mesmo. Existem meditações guiadas sobre bondade na internet ou na página do Sôma&Ser. Estas meditações, normalmente, são muito simples - frequentemente propõem que cante/verbalize para si mesmo : “Posso estar livre de danos. Posso ser forte e saudável. Posso ser feliz. Que eu viva uma vida cheia de facilidade. ” E depois estendendo esses mesmos desejos às pessoas que você ama e ao mundo em geral.
Quando verbalizas sinceramente esses desejos, toda esta prática é um alívio. As frases canalizam a energia (focam a mente) em vez de permitir que ela prolifere e se exalte. Desta forma poderá voltar ao controlo, sentir o seu corpo relaxado à medida que o espaço mental que estava focado na ansiedade se abre e liberta. 
Desta forma fica livre para escolher como reagir a seguir, em vez de fica preso nas histórias fantasmagóricas que a cabeça criou.

Outra ferramenta eficaz é simplesmente mudar o ambiente físico. Ainda que estejamos em contenção, este pode ser um momento para sair de casa (com as devidas precauções) mas só se houver coisas que em casa activem a tua ansiedade. Ou então muda de divisão, ou então põe uma música suave, dança ao som dessa música... 
As ferramentas são simples - a chave é saber quando usá-las.

Para concluir partilho uma história: "Recentemente, a Ana foi ás compras e viu-se cercada de pessoas, muitas de máscara e luvas, outras sem protecção mas de cara cerrada, andando de corredor em corredor a fazerem as suas compras. Instantaneamente, o seu pulso começou a acelerar, e todos os seus medos pelo contágio afloraram à sua mente, tanto que ela teve que parar de fazer compras e fazer uma pausa.

Primeiro, a Ana respirou fundo uma e outra vez, para sair da mente e voltar ao corpo - ao aqui e agora. Então, ela viu que estava em um grande local público e estava em segurança. Não havia uma ameaça imediata.
A partir disso, ela expandiu seus pensamentos para seu carro seguro que estava no estacionamento, e para a sua casa onde vive confortavelmente há décadas. Enraizar-se no presente - e em seu contexto mais amplo - diminuiu a ansiedade e, assim, a enfraqueceu o medo, permitindo que ela cumprisse as suas tarefas.

A história da Ana ilustra os dois elementos de como lidar com a ansiedade. O primeiro é reconhecê-lo. A ameaça está no momento ou está na mente? Depois de nomear, é mais fácil resolvê-lo. Tal como a Ana, pode buscar várias ferramentas. Mas nada é seguro em todas as situações, há que tentar e experimentar uma e outra vez. Se caímos, levanta-mo-nos e seguimos em frente. Pedimos ajuda, se necessário, seguimos em frente... a cada momento. 
É assim que a mudança acontece, é assim que o progresso é feito - através de esforço resiliente, não através de autopunição ou julgamento. 

Mas a mudança é possível. Tu podes viver uma vida em que mantens a ansiedade em perspectiva.

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